O governo da Argentina negocia um novo empréstimo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para fortalecer as reservas do Banco Central (BC). Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, o montante acordado com a equipe técnica do Fundo ainda precisa ser aprovado pela diretoria-executiva da instituição. O anúncio ocorre em meio à pressão cambial e ao aumento da procura por dólares no país.
A Argentina já realizou 23 empréstimos com o FMI ao longo de sua história e, se confirmado, este será o terceiro desde 2018, quando o governo de Maurício Macri firmou um acordo de US$ 56 bilhões com a instituição. Além do FMI, Caputo também negocia empréstimos com o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).
Especialistas apontam que a operação visa controlar a inflação por meio da injeção de dólares na economia e manter um câmbio artificialmente baixo. O diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina, Alejandro Olmos Gaona, avalia que o governo busca acalmar o mercado financeiro diante da volatilidade cambial. “Em um mês, US$ 1,4 bilhão foi utilizado para estabilizar o mercado, mas o dólar segue em alta”, destacou.
Saneamento do Banco Central e impacto na dívida
O governo de Javier Milei argumenta que o objetivo do novo empréstimo é “sanear” as reservas do BC, trocando títulos do Tesouro por dólares, o que daria maior estabilidade à moeda local e fortaleceria o controle inflacionário sem aumentar o endividamento total do país. Atualmente, as reservas do BC somam US$ 26 bilhões, e o governo pretende elevá-las para US$ 50 bilhões. Para efeito de comparação, o Banco Central do Brasil encerrou 2024 com reservas de US$ 329,7 bilhões.
Apesar do discurso oficial, especialistas alertam para os riscos do endividamento externo. Alejandro Olmos ressalta que a dívida pública argentina já atinge US$ 471 bilhões, com pagamento anual de juros na casa dos US$ 22 bilhões. “Não é o mesmo dever ao BC, que é parte do Estado e pode refinanciar a dívida, do que ao FMI, que impõe exigências e monitoramento econômico rígido”, alertou.
A imprensa argentina especula que uma das exigências do FMI pode ser a flexibilização dos controles cambiais, incluindo a eliminação da restrição de compra de dólares por pessoas físicas. A possibilidade de um câmbio totalmente livre tem impulsionado a demanda por dólares no mercado interno.
Perspectivas econômicas
Embora o governo aposte na exploração das reservas de petróleo e gás em Vaca Muerta como fonte de receita para estabilizar a economia, especialistas questionam a sustentabilidade da estratégia de endividamento. “A história da Argentina mostra que todos esses acordos com o FMI falharam. Falta um plano de desenvolvimento sustentável de longo prazo”, concluiu Olmos.
O governo de Javier Milei pretende fechar o acordo com o FMI até abril, em um momento de queda da inflação anual, que passou de 287% em março de 2024 para 66% em fevereiro de 2025. O impacto do novo empréstimo sobre a economia e a população argentina ainda é incerto e dependerá das condições impostas pelo Fundo.