Relatório anual aponta falta de transparência, demora nas investigações e pouca cooperação de líderes católicos em diversos países
A Comissão de Proteção à Criança do Vaticano criticou duramente os líderes católicos de alto escalão por não agirem com rapidez e transparência diante das denúncias de abuso sexual cometidas por membros do clero. O relatório anual, divulgado nesta quinta-feira (16), afirma que a Igreja ainda falha em oferecer apoio efetivo às vítimas e em implementar medidas globais de prevenção.
O documento de 103 páginas aponta que, em muitos casos, as vítimas não recebem informações sobre o andamento de suas denúncias, nem sobre eventuais punições aplicadas a bispos ou padres envolvidos em casos de abuso e acobertamento. A comissão também relata que seus próprios pedidos de informações sobre protocolos de proteção nem sempre foram atendidos.
“Em muitos casos, as vítimas relatam que a Igreja respondeu com acordos vazios, gestos performativos e uma recusa persistente de se envolver com as vítimas de boa fé”, diz o texto.
Criada em 2014 pelo papa Francisco, a comissão passou por diversas renúncias internas e só publicou seu primeiro relatório anual no ano passado. Este é o mais abrangente até agora, com críticas diretas — embora sem citar nomes — à liderança da Igreja.
Entre os países avaliados, a Itália foi duramente criticada por sua baixa cooperação: apenas 81 das 226 dioceses responderam a um questionário sobre práticas de proteção. Já a Coreia do Sul teve 100% de participação.
O relatório também alerta para falhas estruturais dentro do Vaticano, como a falta de clareza sobre quem é responsável por investigar denúncias, o que gera confusão e atrasos.
A comissão recomenda maior transparência nas remoções e renúncias de bispos envolvidos em casos de abuso, ressaltando que a omissão de informações alimenta a desconfiança pública. “A falta de responsabilidade dos líderes da Igreja foi uma questão frequentemente levantada pelas vítimas”, conclui o relatório.