Programa Mulheres na Cultura busca ampliar participação feminina no setor artístico de Mato Grosso

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A multiartista Paty Wolff, criada na periferia de Cuiabá, por muito tempo não enxergou a cultura como um caminho profissional viável. Hoje, atuando em diversas linguagens, como pintura, escultura, instalações e literatura, ela exemplifica a importância do incentivo ao trabalho artístico feminino. Mulheres como Paty serão beneficiadas pelo Programa Mulheres na Cultura, criado pela Lei nº 12.808, sancionada em fevereiro deste ano.

De autoria do deputado estadual Valdir Barranco (PT), a legislação tem como objetivo ampliar a presença feminina no setor cultural mato-grossense. Entre as diretrizes estão a reserva de vagas para mulheres em comissões avaliadoras e editais, além da prioridade na cessão de espaços públicos para eventos. A norma também visa fortalecer a inclusão de grupos historicamente marginalizados, como pessoas de baixa renda, LGBTQIAPN+, indígenas, negras e pessoas com deficiência.

Apesar dos avanços, Paty Wolff acredita que o incentivo à arte feminina ainda é insuficiente. “O cenário é contraditório. Enquanto artistas do Centro-Oeste, Norte e Nordeste ganham visibilidade no cenário nacional, em Mato Grosso ainda contamos nos dedos as mulheres nas artes visuais. Na literatura há um pouco mais de movimento, mas a dificuldade de circulação das obras ainda é grande”, afirmou.

Cultura como profissão

Para Priscila Mendes, conselheira estadual de Cultura, um dos principais entraves para a equidade no setor é a percepção de que a arte não é trabalho. Segundo ela, a mudança de perspectiva é essencial para garantir valorização e remuneração justas.

“A discussão passa pelo direito das mulheres à liberdade de tempo. Aos homens sempre foi permitido usar o tempo como quisessem, enquanto as mulheres estiveram limitadas ao trabalho doméstico e aos cuidados familiares. Precisamos buscar paridade e respeito de gênero. Já vemos avanços, especialmente nos editais com recursos federais e estaduais, que adotam critérios de pontuação diferenciados para promover equidade, e não privilégio”, explicou Priscila.

O deputado Valdir Barranco ressalta que a desigualdade na divisão das tarefas domésticas impacta diretamente a participação das mulheres na cultura, especialmente em cargos de gestão. Para ele, o programa pode ser um passo importante na busca por mais diversidade nas cadeias produtivas do setor artístico.

Representatividade feminina no setor cultural

Mesmo em áreas onde as mulheres parecem estar bem representadas, a diferença em relação aos homens ainda é expressiva. Segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), apenas 20% dos cargos de direção e roteiro são ocupados por mulheres, que também recebem remuneração inferior aos homens pelo desempenho das mesmas funções.

A falta de representatividade feminina no meio artístico também é tema de reflexão de movimentos internacionais, como o Guerrilla Girls. Em obra exposta no Museu de Arte de São Paulo (Masp), o grupo questiona: “As mulheres precisam estar nuas para entrar no museu?”. A provocação se baseia em um dado alarmante: apenas 6% dos artistas em exibição são mulheres, enquanto 60% das obras de nus retratam figuras femininas.

Para Paty Wolff, o afastamento das mulheres do universo artístico está ligado a múltiplos fatores, como a maternidade e a sobrecarga de responsabilidades domésticas. “Mesmo tendo uma rede de apoio, eu só me sinto de fato trabalhando quando estou fora de casa, no ateliê. A construção de uma carreira artística para uma mulher se dá em outro tempo”, concluiu.

Já a coordenadora do Ministério da Cultura em Mato Grosso, Lígia Viana, destaca a importância da mobilização coletiva. “Precisamos fortalecer a luta pela visibilidade das mulheres, principalmente das negras e periféricas. Quando políticas públicas promovem a diversidade, beneficiando grupos historicamente excluídos, todas ganhamos”, afirmou.

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