Israel retoma bombardeios a Gaza em meio a escândalos e ambições territoriais

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O retorno dos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, iniciado na madrugada desta terça-feira (18), é atribuído, segundo especialistas, a um conjunto de fatores políticos internos de Israel, incluindo o temor do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em relação a investigações de corrupção e seu projeto de anexação do território palestino.

Os ataques, que resultaram na morte de cerca de 400 palestinos, incluindo 100 crianças, rompem uma trégua relativa de dois meses, iniciada em janeiro. A versão oficial de Tel-Aviv aponta a suposta intransigência do Hamas nas negociações para a liberação de reféns como justificativa para a retomada da agressão, mas analistas discordam dessa explicação.

Michel Gherman, professor de Sociologia da UFRJ, aponta que os bombardeios têm mais a ver com o escândalo do Qatar Gate, uma investigação sobre o suposto envolvimento de assessores de Netanyahu com a monarquia do Qatar, financiadora do Hamas. Segundo Gherman, a ação militar serve como uma tentativa de desviar a atenção do escândalo e garantir a continuidade de Netanyahu no poder.

Além disso, a recente demissão do chefe da agência de segurança interna de Israel, Shin Bet, Ronen Bar, está sendo associada à recusa de Bar em interromper investigações sobre o caso Qatar Gate. Netanyahu afirmou que perdeu a confiança no aliado.

A professora Rashmi Singh, da PUC-Minas, também acredita que Netanyahu usa o conflito como uma forma de se proteger de acusações de corrupção, já que ele deveria testemunhar esta semana, mas o processo foi adiado devido à escalada de violência em Gaza.

Outro fator importante para a retomada dos bombardeios, segundo Rashmi Singh, é a ambição de Israel de anexar Gaza. A especialista argumenta que a justificativa de Israel para os ataques não se sustenta, sendo uma tática de distração para alterar os termos do cessar-fogo a favor de seus próprios interesses de ocupação e anexação de territórios.

O acordo de cessar-fogo originalmente estabelecia a liberação de reféns e prisioneiros palestinos, mas foi violado por Israel, que bloqueou a entrada de ajuda humanitária desde março. Enquanto isso, a situação na Cisjordânia também se agrava, com a expulsão de mais de 40 mil palestinos de suas casas.

O professor Gherman acrescenta que a implementação da segunda fase do acordo de cessar-fogo colocaria Netanyahu em uma posição política delicada, pois ela fortaleceria o Hamas e colocaria em risco o apoio dos setores mais radicais de seu governo.

A escalada de violência, portanto, não é apenas uma questão militar, mas uma estratégia política de Netanyahu para se manter no poder e avançar com seus planos territoriais, em uma tentativa de resolver os desafios internos e internacionais enfrentados por seu governo.

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