Jornais dos EUA e Europa lembraram que Brasil nunca julgou golpistas
Os principais jornais internacionais deram amplo destaque, nesta quarta-feira (2), ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete aliados acusados de tentativa de golpe de Estado. As publicações ressaltaram o caráter inédito do processo, já que, apesar do histórico de golpes no Brasil, nunca antes generais ou políticos haviam sido julgados por tentar subverter o regime democrático.
Nos Estados Unidos, o The Washington Post destacou que o Brasil, ao julgar Bolsonaro, enfrenta também a pressão do ex-presidente americano Donald Trump. O jornal lembrou que o país sofreu diversas tentativas de golpe desde a proclamação da República, mas que nenhum político ou militar havia sido levado a tribunal por esse tipo de crime.
O The New York Times publicou a manchete “Como Tentar, e Fracassar, Dar um Golpe” e classificou o caso como um teste crucial para a democracia brasileira. A reportagem aponta que, diante do vasto conjunto de provas, a maioria dos analistas considera provável a condenação de Bolsonaro e de seus aliados, com penas que podem chegar a décadas de prisão.
Na Europa, o britânico The Guardian afirmou que, pela primeira vez, figuras de alto poder político e militar enfrentam a Justiça por tentar derrubar a democracia no Brasil. O jornal ressaltou que as pressões de Trump sobre o julgamento geraram atritos nas relações entre EUA e Brasil e recordou que a última ruptura institucional bem-sucedida ocorreu em 1964, quando generais apoiados pelos Estados Unidos depuseram João Goulart.
Na França, o Le Figaro, em parceria com a AFP, destacou a crise diplomática provocada pelo julgamento. Já o espanhol El País classificou o processo como “histórico”, lembrando que nenhum ex-presidente ou militar havia sido responsabilizado por uma tentativa de golpe até agora.
A revista britânica The Economist também dedicou sua capa ao tema. A publicação ilustrou Bolsonaro com o rosto pintado de verde e amarelo e usando um chapéu de pele, em referência ao extremista que invadiu o Capitólio americano em 2021. Sob o título “O que o Brasil pode ensinar à América”, a reportagem afirma que o país dá um exemplo de maturidade democrática em contraste com os Estados Unidos, que estariam se tornando “mais corruptos, protecionistas e autoritários”.