Dividida e em crise, esquerda boliviana vê direita liderar corrida presidencial

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Bolivianos vão às urnas dia 17 de agosto eleger presidente e congresso

A Bolívia se prepara para as eleições gerais em 17 de agosto com a esquerda profundamente fragmentada e a direita à frente nas pesquisas. O empresário Samuel Doria Medina lidera a corrida presidencial, enquanto figuras da esquerda, antes unidas no Movimento ao Socialismo (MAS), disputam votos em blocos separados e com fraco desempenho nas sondagens.

O presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, ex-aliado de Evo Morales, aparece com menos de 10% das intenções de voto. Já Morales, impedido de concorrer por já ter exercido três mandatos, pede voto nulo, denuncia perseguição política e ataca antigos companheiros de partido. Ele responde a acusações criminais, que nega, e tem alimentado tensões, como em junho, quando protestos pró-candidatura causaram bloqueios e deixaram mortos.

O racha no MAS ameaça encerrar um ciclo de quase duas décadas de governos de esquerda, interrompido apenas pelo mandato interino de Jeanine Áñez (2019–2020), após a renúncia forçada de Evo. O partido retornou ao poder em 2020 com Luis Arce, eleito com 55% dos votos. Contudo, a divisão com Morales enfraqueceu o MAS. Arce desistiu da reeleição e lançou como sucessor o ex-ministro Eduardo Del Castillo, que amarga cerca de 2% nas pesquisas.

Além de Andrónico, outros nomes tentaram se viabilizar pela esquerda. Eva Copa, ex-MAS e atual prefeita de El Alto, criou o partido Morena, mas desistiu da candidatura em julho, alegando falta de estrutura nacional.

Segundo o professor Clayton Mendonça Cunha Filho, da Universidade Federal do Ceará, o personalismo de Evo implodiu o MAS, partido que reunia diversas tendências de esquerda. Com isso, a sigla corre risco de não atingir a cláusula de barreira e se tornar irrelevante no Parlamento.

Enquanto a esquerda se desarticula, a direita tradicional avança. Samuel Doria Medina (Alianza Unidad) e Jorge “Tuto” Quiroga (Alianza Libertad y Democracia) lideram a disputa. Juntos, somam cerca de 47% das intenções de voto, segundo pesquisa do jornal El Deber. Medina, que já foi ministro e disputou a presidência anteriormente, é o favorito. Quiroga, ex-presidente e vice de Hugo Banzer, também tem trajetória consolidada.

A eleição boliviana exige 50% dos votos mais um, ou ao menos 40% com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado para vitória em primeiro turno. Caso contrário, o país terá um inédito segundo turno em 19 de outubro.

O atual modelo político boliviano foi consolidado com a Constituição de 2009, que instituiu o Estado Plurinacional e ampliou o reconhecimento dos povos indígenas. Para o professor Cunha Filho, esse modelo passará por seu primeiro grande teste com a provável vitória de um governo não ligado ao MAS. No entanto, ele acredita que a fragmentação no Congresso pode impedir mudanças profundas, forçando o novo presidente a buscar alianças amplas.

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