Depoimento de ex-ajudante de ordens não foi voluntário, diz defensor
A defesa de Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro, protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) um novo pedido para anular a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. O pedido foi incluído na defesa prévia apresentada no processo que envolve o chamado Núcleo 2 da suposta trama golpista, cujos réus são acusados de atuar para manter Bolsonaro no poder de forma ilegítima após as eleições de 2022.
As declarações de Cid reforçaram outras provas obtidas durante as investigações sobre a tentativa de golpe no fim do governo Bolsonaro, que buscava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o advogado Eduardo Kuntz, Mauro Cid o procurou em janeiro de 2023, pelo perfil “Gabrielar702” no Instagram. O defensor relatou que aceitou conversar por já conhecer o militar e supor que se tratava de possível consulta profissional. Para confirmar a identidade, solicitou uma foto, o que foi atendido.
Na conversa, segundo Kuntz, Cid desabafou sobre os depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) no acordo de delação. Afirmou que os investigadores tentaram induzi-lo a usar a palavra “golpe” em diversas ocasiões. Cid relatou que insistiu para alterar termos dos anexos por não concordar com as formulações sugeridas e que sempre negou ter ouvido de Bolsonaro qualquer intenção de golpe.
Para a defesa de Câmara, esse relato demonstra que os depoimentos de Cid não foram prestados de forma voluntária, requisito legal para validade da delação, o que justificaria sua anulação. O advogado afirmou que o princípio da voluntariedade “foi ferido de morte”.
Na semana passada, em interrogatório conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, Mauro Cid negou ter utilizado perfis nas redes sociais para comunicar informações sobre a delação e disse desconhecer o perfil citado por sua defesa, embora ele coincida com o nome de sua esposa, Gabriela Cid. A defesa de Bolsonaro sugeriu que Cid teria usado o perfil para repassar dados sigilosos dos depoimentos, o que violaria o acordo de colaboração e poderia levar à perda de benefícios.
Após o interrogatório, a revista Veja divulgou mensagens atribuídas a Cid e afirmou que ele mentiu em seu depoimento no STF. Em resposta, os advogados do militar classificaram a reportagem como “mentirosa” e pediram apuração sobre a real titularidade dos perfis utilizados.
Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes rejeitou pedido da defesa de Bolsonaro para anular o acordo de delação de Mauro Cid, afirmando que o momento processual não é adequado para essa análise e que solicitações semelhantes já foram indeferidas em outras fases do processo.