Goldman Sachs aumenta chances de uma recessão nos EUA
As tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continuam a impactar negativamente os mercados financeiros globais. Nesta segunda-feira (6), as principais bolsas da Ásia fecharam em forte queda, ações europeias recuaram ao menor nível em 16 meses e os preços do petróleo registraram forte desvalorização. O temor dos investidores é de que as medidas protecionistas levem a aumentos de preços, queda da demanda e, possivelmente, à recessão global.
Na China, os mercados reagiram com forte queda, levando o fundo soberano do país a intervir para conter a desvalorização. Em Hong Kong e Taiwan, os índices acionários despencaram, sendo que este último registrou a maior queda diária de sua história, com perdas de quase 10%. Na Europa, ministros da União Europeia se reúnem para tentar construir uma resposta unificada diante das tarifas, enquanto ponderam os efeitos negativos sobre empresas e consumidores do bloco.
Em meio à turbulência, o banco Goldman Sachs elevou para 45% a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos nos próximos 12 meses. Já o JPMorgan revisou sua projeção de crescimento para a economia americana e agora prevê contração de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB), uma queda acentuada frente à estimativa anterior de alta de 1,3%.
Mesmo diante do colapso trilionário no valor de mercado das bolsas ao redor do mundo, Trump não demonstrou preocupação. “Às vezes é preciso tomar remédio para consertar alguma coisa”, disse o presidente norte-americano a repórteres no domingo (5), ao retornar de um fim de semana de golfe na Flórida. Ele afirmou que os países estrangeiros “terão que pagar muito dinheiro anualmente” para que as tarifas sejam suspensas, e revelou ter conversado com líderes da Europa e da Ásia, que tentam negociar uma redução de até 50% nas novas taxas.
As medidas foram duramente criticadas por diversos líderes internacionais e motivaram retaliações da China. As ações de empresas de defesa europeias, que vinham se valorizando com a expectativa de aumento nos gastos militares, registraram a maior queda diária desde abril de 2020. O bilionário Bill Ackman, que apoiou Trump nas eleições, pediu a suspensão imediata das tarifas para evitar um “inverno nuclear econômico”.
Investidores e governos tentam decifrar se as tarifas fazem parte de uma estratégia de barganha ou se representam uma mudança duradoura na política comercial dos EUA. O ministro das Relações Exteriores e do Comércio da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, classificou as tarifas como “um ataque ao livre comércio que garantiu prosperidade ao mundo” e afirmou que a Europa não pode apenas assistir passivamente.
Nos Estados Unidos, assessores econômicos de Trump tentaram amenizar os efeitos da medida, dizendo que mais de 50 países já iniciaram negociações com Washington. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmaram que as tarifas serão mantidas por “dias ou semanas”, enquanto se desenham possíveis acordos.
Na Ásia, o Japão, um dos principais aliados dos EUA, também tenta costurar um entendimento. O primeiro-ministro Shigeru Ishiba reconheceu que as negociações podem levar tempo. Enquanto isso, o índice Nikkei caiu ao menor nível em um ano e meio, puxado por perdas nos bancos, que já acumulam desvalorização de quase 25% em apenas três sessões.
Nem mesmo o ouro escapou da pressão do mercado, sendo vendido para cobrir perdas em outras áreas. A crescente possibilidade de recessão elevou as apostas de que o Federal Reserve (Fed) possa reduzir os juros já no próximo mês. No entanto, o presidente do banco central americano, Jerome Powell, ainda não deu sinais de que pretende agir com urgência.
Na tentativa de conter os danos, alguns governos já manifestaram disposição para negociar. Taiwan, por exemplo, ofereceu tarifas zero como base para um acordo e prometeu aumentar os investimentos de suas empresas nos EUA. Índia e Vietnã também iniciaram tratativas com Washington, buscando evitar a escalada das tensões comerciais.