Pedido de indiciamento inclui Bruno Tolentino, tio de Lucas Paquetá
Após quase um ano de investigações, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas aprovou, nesta terça-feira (19), seu relatório final, encerrando os trabalhos do colegiado. O documento, cujo conteúdo já era conhecido desde fevereiro, recomenda o indiciamento dos empresários William Pereira Rogatto e Thiago Chambó Andrade, além de Bruno Tolentino, tio do jogador de futebol Lucas Paquetá. A proposta foi aprovada com apenas um voto contrário, do senador Eduardo Girão (Novo-CE).
O relatório sugere mudanças na legislação para reforçar o combate à manipulação de resultados e fraudes no setor de apostas. “O cenário atual do futebol brasileiro encontra-se em um momento delicado e preocupante, no qual a integridade do esporte mais popular do planeta está sendo constantemente questionada”, destaca o documento.
As investigações ganharam ainda mais atenção em maio de 2024, quando a Federação Inglesa de Futebol (FA) acusou Paquetá de cometer faltas em partidas do West Ham para beneficiar apostadores informados previamente sobre sua intenção. O jogador nega as acusações, mas o relatório da CPI indica que seu tio está entre os investigados por movimentações financeiras suspeitas ligadas a apostas.
Bruno Lopez de Moura, ex-jogador e empresário também investigado, confessou aos parlamentares ter participado do esquema e revelou que recebia informações privilegiadas sobre jogos envolvendo Paquetá. Moura, no entanto, não foi indiciado devido a um acordo de colaboração firmado com o Ministério Público.
Outro personagem central do caso, William Rogatto, se identificou como um dos maiores manipuladores de resultados do Brasil e foi preso pela Interpol em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em novembro de 2024. Já Thiago Chambó Andrade é apontado como membro de uma organização criminosa dedicada à corrupção de competições esportivas e não compareceu à CPI em nenhuma das duas convocações.
Com a aprovação do relatório, a CPI endossa propostas legislativas para endurecer o combate às fraudes esportivas. Entre elas, está uma emenda constitucional que obriga qualquer cidadão a atender convocações de CPIs e projetos de lei que criminalizam fraudes no mercado de apostas e preveem a suspensão ou banimento de atletas condenados por envolvimento nesses esquemas.
O documento também recomenda restrições às chamadas “single bets”, apostas que envolvem eventos específicos dentro de uma partida, como a marcação de faltas ou pênalti, por serem mais fáceis de manipular. “Quanto mais atrativos os produtos de apostas se tornam, mais fácil é prever o resultado e mais suscetíveis eles ficam à manipulação”, alerta o relatório.
Todo o material produzido pela CPI será encaminhado à Polícia Federal e ao Ministério Público da União para continuidade das investigações, além de ser compartilhado com órgãos como a Casa Civil e os Ministérios da Fazenda, Justiça, Esporte e Saúde para eventuais medidas adicionais.
